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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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– Não, não: amante; só assim está em possibilidade de criação.<br />

– Quantas coisas me poderias ensinar!<br />

– Assim, friamente? Não acredites.<br />

Ficou assustado de ter falado demais. Mudamos de palestra, e ainda encontrei arte para restituir-lhe a<br />

serenidade que perdera (Las Casas, 1938: 89).<br />

Ele, inclusive, aconselha Luiz, que fumar e como fumar. Assim o registra no diário<br />

aos 11 de janeiro, recomendando-lhe que compre essências “Bichara” para perfumar os<br />

“cigarros aceitáveis” que Luiz já fuma e que se desfaça dos vulgaríssimos “Capstam”, “que<br />

fumam todos os marujos do mundo e os grã-finos de todos os cassinos econômicos” (Las<br />

Casas, 1938: 89). Fernando aprova as piteiras que Luiz tem, de marfim, de tartaruga e de<br />

âmbar em diferentes tonalidades 568 . Aos 18 desse mês, louva o aprendizado de Luiz sobre<br />

licores e a aquisição que deles ele fez, pelo qual Fernando registra que “Já poderiam vir a<br />

esta quinta os bebedores mais exigentes do mundo” (Las Casas, 1938: 93). Esse<br />

aprendizado serviu para que Luiz se diferenciasse dos campônios galegos e começasse a se<br />

parecer ao dandy cosmopolita em quem Fernando quer transformá-lo: “Luiz está<br />

desconhecido. De manhã já não toma, como os campônios, caldo com pão de centeio; agora<br />

saboreia com os máximos requintes frutas, marmeladas, tortas, café negro e um cálice de<br />

bom gim Gordon’s old Tom ou de Steinhäger” (Las Casas, 1938: 93). Em 25 de janeiro<br />

Fernando reproduz a explicação que lhe dera a Luiz sobre “a série dos grandes perfumes”.<br />

De um deles, o “Orchid de Renaud (Paris-1817), anota que o vira vender no Rio, “na casa<br />

Hermanny” a 32 contos de réis (Las Casas, 1938: 94). As mudanças de gosto que Fernando<br />

promove no paço afetam, inclusive, o criado João quem, aos 2 de março, apresenta-se<br />

transformado na sua aparência perante Fernando, com um “belo anel antigo” com o qual o<br />

presenteara Luiz e “bons sapatos marron, calças cinzentas da melhor qualidade e sweater<br />

branco, sem paletó; muito bem penteado, as unhas muito polidas, perfumado<br />

discretamente... elegante, sim senhor, como qualquer dandy de alta roda” (Las Casas, 1938:<br />

568 A preocupação do protagonista Fernando pela demonstração, entre os fumantes, de um hábito distinto será<br />

de novo marcada no final do romance. Na anotação do diário de 27 de agosto salienta-se o correto modo para<br />

fumar charutos que mostra “D. Francisco, o médico”, um personagem que não intervém em nenhuma outra<br />

passagem da obra e de quem não se esboça um retrato que vá além da particularidade da sua forma ritual de<br />

pegar, segurar e acender um havano. A sua função é só a de servir de escusa para a exposição da posse que o<br />

protagonista considerava adequada e elegante para um fumante: “Nota-se que D. Francisco, o médico, foi<br />

homem de certa linha; hoje observei-o na hora do café vendo com que arte especialíssima acendeu o seu<br />

charuto: acariciou-o algum tempo, cheirou-o de vagar, com deleite, acendeu seu fósforo pausadamente, e,<br />

girando o havano entre os dentes, foi-o queimando em aspirações fundas e isócronas, que tinham qualquer<br />

coisa de rito” (Las Casas, 1938: 161).<br />

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