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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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narrativa, as impressões éticas e estéticas que ele guarda da Espanha conformam uma<br />

hipérbole noventayochista. Referem-se aos espanhóis como um povo formado por sujeitos<br />

individualistas e corajosos, um povo alienado em supostos sentimentos católicos e em<br />

estóicos valores militares. Nesse povo seria também notória a paixão na salvaguarda dos<br />

seus princípios católicos e a intensidade no modo de vida, uma intensidade que se refletia<br />

na fatal capacidade de atração das mulheres andaluzas. Eis o início e o final da extensa<br />

definição que ele traça:<br />

A Espanha é um país que sempre limitou com a morte. As suas fronteiras são banhadas pelas águas<br />

fúnebres do Lethes, pois, das suas terras de fé e ressurreição, o homem se perde no esquecimento dos<br />

seus sagrados deveres cristãos. Viajando as suas contraditórias províncias onde homens e mulheres<br />

adornam os dias e as horas com os seus cantos e as sua paixões, senti uma forte atração por esse<br />

espanhol rude das colheitas do trigo feliz e pelos olhos em calda das raparigas que têm sumo de uva<br />

nos lábios sensuais como cravos vermelhos. [...] Torna-se necessário ter a vivência desse país, que<br />

ainda guarda nas minas profundas das suas maravilhosas tradições reservas inesgotáveis de opulentas<br />

sugestões estéticas (Silveira, 1956: 198).<br />

Em relação à noitada com danças regionais espanholas da que desfrutou Silveira no<br />

pátio da Embaixada espanhola no Rio e que, supostamente, induziu as rememorações e<br />

elucubrações do seu relato, o autor faz os seguintes apontamentos sobre a atmosfera que<br />

nela se percebia:<br />

Essa recordações espanholas vêm-me à pena provocadas por essas danças campestres a que, há<br />

algum tempo, tive a fortuna de assistir nos jardins da Embaixada de Espanha. A noite protegida pelos<br />

cristais de uma lua oriental se alcatifara de azul pálido para o baile dos suspiros com estrelas. Na<br />

tranqüilidade sonora da atmosfera, havia perfumes perdidos de mulheres esquecidas. O mágico<br />

champagne lapidava com arte diabólica as brilhantes pupilas das encantadoras figuras femininas. Os<br />

black-ties propensos ao scotch empunhavam cilíndricos copos cheios do líquido cor de topázio. Foi<br />

nessa altura que as danças regionais começaram. Raparigas silvestres de várias províncias ibéricas<br />

nos deram com graça e simplicidade as imagens frescas das suas almas através de movimentos<br />

terpsicóricos (Silveira, 1956: 199).<br />

Silveira só se refere a uma das apresentações de “danças campestres” – “danças<br />

regionais”/ “bailados regionais” – às que assistira; ela é qualificada pelo autor como<br />

“flamenco castizo”, a qual, junto ao “canto hondo”, interpretado por “guitarras frenéticas” e<br />

as “vozes árabes nas gargantas de cobre dos cantores”, leva-o a evocar Sevilha e Granada.<br />

Assim, por um lado, descreve pormenorizadamente e comenta as danças andaluzas:<br />

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