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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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se ampare em uma alegação inicial. Enquanto o sujeito mantenha a sua condição de<br />

ausente, essa alegação terá que ser constantemente renovada. Os argumentos da alegação<br />

terão que ser reforçados, para resultarem mais convincentes, quanto mais se prolongue a<br />

ausência.<br />

Se o retorno definitivo não acontece, o projeto de ausência perde a sua delimitação e<br />

passa a ser ambíguo e indeterminado e, conseqüentemente, suspeito a respeito da sua razão<br />

de ser e dos seus prazos, constatando-se as iniciais suscetibilidades acerca de ele poder-se<br />

converter em uma separação radical. Sayad (1998: 109) acredita que a única forma para se<br />

evitar jogar a suspeita de “fuga” ou “renegação” sobre o emigrante cuja ausência se torna<br />

infinda é a da “moralização” da emigração. A moralização do fenômeno emigratório<br />

consiste em inocentar ou eximir de culpa tanto àqueles que se ausentam (os emigrantes)<br />

quanto àqueles que consentem a ausência e que, portanto, se tornam cúmplices dela (o<br />

conjunto da sociedade de emigração). Essa moralização é, na sua essência, um amoralismo<br />

que permite neutralizar o fenômeno, retirando dele qualquer julgamento dramático sobre a<br />

sua morfologia, e que o tecniciza ao o apresentar como um processo trivial no qual, sem dó<br />

nem traumas, uns indivíduos tentam melhorar a sua fortuna indo trabalhar por um prazo<br />

indefinido em um país que não é o seu, com vistas a regressarem ao seu país quando o<br />

processo esteja encerrado, isto é, quando se tenha acumulado o capital anelado que motivou<br />

a partida. O amoralismo, para ser completo e eliminar tendências à culpabilização relativas<br />

à sinistrose, tem que contemplar que possa acontecer qualquer acidente durante o<br />

desenvolvimento do processo, aceitando-se, ora prorrogações da ausência do lar para se<br />

completar o percurso, ora a consecução parcial das metas propostas ou, inclusive, o<br />

fracasso do empreendimento.<br />

O amoralismo também age sobre a prestação de contas que tem que fazer o<br />

emigrante retornado. Ao regressar, o emigrante há de fazer público o balanço da sua estadia<br />

no exterior, mas este não deve ser um exame escrupuloso senão uma simples apresentação<br />

do capital acumulado através do seu desempenho profissional. A confissão dos<br />

padecimentos e das sensações de mal-estar tidos durante a estada no exterior não tem<br />

cabimento para um retornado preocupado com a sua honra. Ele é consciente de que todos<br />

os sujeitos concernidos com a sua presença no exterior, e interessados em saber, já sabem,<br />

sem que ele precise dizer e apesar de que eles possam fingir e ignorar. Dessa forma, ao não<br />

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