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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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portuguesa – e eu com ela – correu para a doce gente galega”. Guilherme de Almeida não esclarece o motivo<br />

da sua estadia em Portugal naquele ano, mas ela devera-se à sua prudente partida para um exílio de oito meses<br />

após ter participado, como soldado, no levante paulista de 1932, do qual regressaria, a São Paulo, em 1º de<br />

agosto de 1933. Os dias passados na Galiza – Vigo, Compostela, A Corunha – fizeram com que ele<br />

descobrisse os alicerces culturais – alto-medievais – de Portugal e, logo, do Brasil. Diz Almeida que, em<br />

Vigo, “eu vi e compreendi a irmanação, a identificação total e imediata dos dois povos. E eu também entrei<br />

logo, e logo me dissolvi no cadinho onde os dois sangues afins se fundiam. Tudo era de um e de outro ao<br />

mesmo tempo. O tipo físico, os costumes, a língua, cruzavam-se subterraneamente, como as raízes, para vir à<br />

superficialidade do solo, como os troncos, e separar-se aparentemente, no céu, como os galhos, as folhas, as<br />

flores, os frutos. Uma palavra, então, apareceu, luminosíssima, em todos os periódicos, em todos os cartazes,<br />

em todos os lábios, que me aclarou tudo: ‘troncalidà’ [...]. Que mágica palavra! Aquilo, ali, a Galiza, era a<br />

‘troncalidà’; a pátria primeira da minha raça; e, ainda mais, da minha língua; e, mais ainda, da minha canção.<br />

Lembro-me bem... Quando, num hotel de Vigo – e um hotel que, providencialmente para mim, ficava perto da<br />

rua de Curros Henriques –, sobre um primeiro cartão-postal, eu escrevi, com a data, o nome ‘Vigo’, a minha<br />

pena, toda perdida no vício de rimar, quis, por força, escrever por baixo a palavra ‘amigo’. ‘Vigo’ – rima que<br />

ficou para todo ‘cantar-de-amigo’” (Poesias, 1966: 8-9). A edição de 1966 encerra-se com uma “Homenagem<br />

da Editora” a Rosalia. Essa homenagem realiza-se com a publicação da tradução de dois poemas dedicados a<br />

Rosalia: Canção de ninar para Rosalia de Castro, morta (de Federico García Lorca) e Para Rosalia (de Curros<br />

Enríquez). Ambos são reproduzidos na edição de 1987, sob a epígrafe Dois poemas para Rosalía. Nessa<br />

reedição, os dois poemas são introduzidos e criticados por Ecléa Bosi. O texto de Almeida foi retirado nessa<br />

reedição, publicada também em São Paulo, mas pela Brasiliense, na qual o título de 1966 [Poesias] aparece<br />

em singular: Poesia, e Ecléa Bosi consta não como a responsável pela tradução, senão como a responsável<br />

pela “seleção e versão do galego e do espanhol”. Porém, o texto biobibliográfico sobre Rosalia de Castro<br />

redigido por Ecléa aparece revisado e ampliado, embora mantenha o mesmo título: Duas palavras sobre<br />

Rosalía. De fato, Ecléa Bossi data-o, em São Paulo, em março de 1966 – dezembro de 1986. Desta vez, ela<br />

dividiu em seções o texto Duas palavras sobre Rosalía. Essas seções são: A terra e seus cantares; Como era<br />

Rosalía?; Folhas Novas e Últimos anos: En las orillas del Sar. Ecléa Bosi não esclarece a razão de se retirar o<br />

texto de Almeida. Em uma breve nota, intitulada Sobre a primeira edição de 1966, simplesmente declara: “A<br />

primeira edição desta obra suscitou artigos, capítulos de livros e cartas de escritores brasileiros, portugueses e<br />

galegos. Escolhemos apenas alguns trechos dessa fortuna crítica, para lembrar e agradecer. – Agradecer ao<br />

primeiro editor, José Velo, revolucionário humanista de velha cepa, cuja figura alta e magra lhe valera o<br />

apelido de Dom Quixote da Galiza. Na sua simpática Livraria Nós, em São Paulo, difundia a cultura galega. –<br />

Agradecer de novo à pintora Rita Rosenmayer, que ilustrou a primeira edição [a capa e as ilustrações da<br />

segunda edição são de Lila Figueiredo]” (poesia, 1986: 29). O mineiro Andityas Soares de Moura foi o<br />

responsável, em 2003, pela edição anotada, bilíngüe, de uma antologia poética de Rosalia de Castro. Essa<br />

antologia, intitulada A rosa dos claustros (Moura, 2003), foi publicada pela belo-horizontina Crisálida, com<br />

orelhas de Xosé Lois García. Andityas Soares de Moura não ignora que, em 1987, a paulistana editora<br />

brasiliense lançara uma outra antologia de poemas de Rosalia de Castro selecionados e traduzidos por Ecléa<br />

Bosi. Todavia, Andityas Soares de Moura acredita que há uma grande diferença, e um mérito, na antologia<br />

organizada por ele devidos ao seu caráter bilíngüe. Por sua vez, Xosé Lois García fora o responsável de uma<br />

Antologia da poesia brasileira (2001), também bilíngüe (português/ espanhol), centrada em novos valores do<br />

verso brasileiro na segunda metade do séc. XX. Nela há dois poemas que contêm elementos repertoriais<br />

galegos, um da paulistana Renata Pallottini (Antologia da poesia brasileira, 2001: 156), intitulado Botafumeiro,<br />

e um de Luciano Maia (Antologia da poesia brasileira, 2001: 394), intitulado Soneto de adeuses na<br />

Galícia. Não dispomos de dados que nos permitam saber como se iniciou a recepção da obra de Rosalia de<br />

Castro entre os leitores brasileiros, embora fossem usuais as alusões a Rosalia e à sua obra nas publicações<br />

periódicas das associações de imigrantes desde o início do séc. XX. A primeira constatação que pudemos<br />

fazer da existência de um brasileiro que conhecesse a poesia de Rosalia é casual. Trata-se de uma dedicatória<br />

que Geraldo Ferraz escreveu para a sua esposa Patrícia Galvão – a Pagu – no livro com que a presenteou.<br />

Deduz-se que Geraldo Ferraz conhecia a poesia do livro com que regalou à sua senhora. Esse livro é a Obra<br />

poética de Rosalía de Castro, impresso em Buenos Aires, pela Espasa Calpe, em 1942. Na dedicatória Ferraz<br />

escreveu: “Para a Pat: ...não sei se há alguma língua, no mundo, mais adequada à poesia. São Pedras e Areias<br />

e Brisas, reunidas ao balbuciar das crianças. A 1 de julho, 1942”.<br />

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