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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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fizesse o possível para comprometer na Associação sujeitos de prestígio, isto é, “sujeitos de<br />

projeção no Rio” 166 .<br />

Um ano depois desse desencontro com Lapa, Humberto Delgado, deslocando-se de<br />

São Paulo, compareceu de novo em Belo Horizonte. Aos 10 de junho de 1960, ele fez parte<br />

da comissão que inaugurou um busto Luís de Camões, na praça do poeta português, no<br />

bairro de Lourdes da capital mineira, em um ato promovido pela Prefeitura Municipal, o<br />

Diretório Central dos Estudantes e a Divisão de Minas Gerais da Associação General<br />

Humberto Delgado. Fora convidado, então, o ex-diplomata e intelectual Álvaro Lins, quem<br />

ajudara Delgado a abandonar Portugal refugiando-o na Embaixada do Brasil em Lisboa e<br />

realizando as gestões para a concessão do asilo político do general no Brasil. Lins, embora<br />

tivesse aceitado inicialmente o convite, não compareceu 167 .<br />

166 Nessa carta, escreveu Delgado (Carvalhal, 1986: 85): “Meu Exmo. Amigo Snr. Dr. Luiz Carvalhal, Dentro<br />

da idéia de certas coisas só convir serem tratadas por ambos, venho relembrar, a propósito do jantar em que<br />

me falou, da necessidade de não darmos azo a uma falsa ou nova exploração (como a de Belo Horizonte):<br />

“uma rapaziada”. Pondero ao seu espírito que o “avacalhar” é perigoso aqui e que temos de ir aprendendo e<br />

emendando. Assim, na Conferência para 10 de Junho, em que eu também falei, tínhamos pouca gente, para<br />

não dizer nenhuma dos poucos portugueses de projeção no Rio. Em Belo Horizonte, o Rodrigues Lapa nada<br />

fez, se não desfez, para que alguma pessoa de projeção ajudasse à tão grande boa vontade dos rapazes, e<br />

aparecesse. NÃO PO<strong>DE</strong> SER. Quero dizer: se nos não acautelamos, caímos no “avacalhar”, como, creio, eles<br />

dizem, pois que, sempre que a Associação se mete, o General só tem rapazes à volta dele, como começarão a<br />

dizer. Logo, para o jantar, convém agarrar gente de projeção que lá vá. Além de nós os dois. Mas que não<br />

diga apenas que vai. Que vá para se evitar que o “Chefe de Estado” como amavelmente me chamam, não ande<br />

isolado da pequena parte da Colônia alta que é anti-salazarista. Se vou só eu é muito mau. Cuidado. Como viu<br />

em Belo Horizonte, por desconhecimento de hábitos, o nosso carro andava um bocado cheio demais, e o<br />

pessoal como excesso de à vontade, como lhe salientei depois de acabada a “festa”. Casos análogos não<br />

podem repetir-se. É preciso dar uma certa formalidade para evitar o perigo que disse. Está a ver o que pode<br />

dar, como exploração, se nos não importamos com o caso, cuidadosamente. Recomendo-lhe, pois, apreenda<br />

bem o sentido que desejo pôr nas minhas observações de amigo seu e da Causa [...] P.S. Por que não mete o<br />

João Ribeiro Dantas, pessoal do Diário de Notícias, Colaço, grupo Seabra, professores universitários, etc. São<br />

mais do que eu?”.<br />

167 Em carta dirigida a Luís Abreu de Almeida Carvalhal (Carvalhal, 1986: 201), Delgado demonstra que a<br />

missiva de Lapa lhe causara um grande impacto ao dar instruções para que a sua presença em Belo Horizonte<br />

estivesse revestida de distinção: “Creio que o meu Amigo irá, mas, vá ou não vá (e eu muito apreciaria que<br />

fosse, é claro), julgo poderei aproveitar os ensinamentos da outra viagem para evitarmos da parte dos<br />

salazaristas, e dos “narcisos” oposicionistas, como aquele lente que se julga filho de Deus. Devia, pois, desta<br />

vez: a) evitar-se que o carro em que eu me desloque ande a transbordar; b) quem vá ao volante não ande em<br />

mangas de camisa, nem os que andem dentro do carro comigo (estes dois assuntos devem tratar-se sem<br />

magoar os rapazes, tão cheios de boa vontade); c) se há cumprimentos às autoridades, garantir horas exatas<br />

para os fazer. Arranjar nomes de peso para a cerimônia; d) parecendo que há quaisquer declarações acerca do<br />

espírito político de Camões, convém eu saber do que se trata para estar prevenido contra qualquer rasteira<br />

(mandar-me JÁ); e) dar-me lista agora, se possível, das pessoas a quem devo agradecer (com nomes e<br />

funções). Como o tempo aperta, convinha olhar já por isto”. O pavor de Delgado perante a possibilidade de<br />

que surja algum imprevisto deselegante faz com que ele, em carta de 3 de junho de 1960, lhe saliente a<br />

Virgolino Pereira Vilhena – presidente da Associação Humberto Delgado de Belo Horizonte – os mínimos<br />

detalhes que devem ser cuidados no tratamento de Álvaro Lins, o convidado de prestígio para a inauguração<br />

do busto de Camões: “Telefonei imediatamente ao Dr. Álvaro Lins, que aceitou o convite. Vai com a Esposa,<br />

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