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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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se para acrescentar detalhes incisivos, de provável clara significação para os receptores da<br />

época, ao retrato de umas prostitutas 214 .<br />

Os outros três usos do vocábulo galego estão inseridos na Crônica do Viver Baiano<br />

Seiscentista (Gregório de Matos, 1999). Assim, na nona das dezoito estrofes da sátira<br />

dedicada “A várias pessoas”, a mordacidade destrutiva barroca de Gregório de Matos<br />

alcança, de novo, os galegos; desta vez, um galego faz parte do conjunto de figuras<br />

viciosas, hipócritas e corruptas – manganos de atafona, cristãos-novos sandeus, um clérigo<br />

ladrão, um doutor e um letrado ignorantes, fidalgos nativos parvos, sodomitas – que<br />

intervêm na degradação da atmosfera política, religiosa e econômica da Bahia 215 .<br />

Na décima Aos capitulares do seu tempo, destinada a escarnecer e expor ao ridículo<br />

os viciosos e desmandados participantes da alta hierarquia da igreja da cidade de Salvador,<br />

“mula galega” é a imagem com que identifica a um membro da Sé da Bahia apelidado<br />

Caveira 216 . A derradeira utilização do vocábulo galego encontrada na produção de<br />

Gregório de Matos tem a função de modificar o substantivo “alhos”, conformando a<br />

expressão comer alhos galegos que, com o verbo conjugado, é inserida na décima intitulada<br />

Entra agora o poeta a satirizar o dito padre 217 . Nessa décima, o poeta mofa-se do P Manuel<br />

Alvares, cujo nome troca pelo de “Reverendo Padre Alvar” para que recaia nele o apelido<br />

de tolo, e acusa-o com crueldade irônica de estar ressentido por comer “alhos galegos”, isto<br />

é, por se sentir afetado pelas anteriores pulhas inventivas que ele lhe dirigiu.<br />

As três primeiras acepções dadas por Matos à palavra galego, na sua flexão de<br />

gênero e número, embora contenham claramente uma carga de desprezo, não permitem<br />

214 Trata-se da estrofe “Outras tias me dizem que foram/ Tão fortes gallegas, e tão varonìs,/ Que sobre ellas<br />

foi muito mais gente/ Do que sobre Hespanha em tempo do Cid” (Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2009).<br />

215 A estrofe em que foi introduzido o retrato zombeteiro do galego expressa que: “Verão um gallego/ Grande<br />

salvajola,/ Veste à mariola,/ Anda ao patacego:/ Fidalgo Noroego/ Com cruz de Calvario,/ Que um certo<br />

falsario/ Nos peitos lhe entona:/ Forro minha cona” (Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2009).<br />

216 A décima é a seguinte: “A nossa Sé da Bahia,/ Com ser um mappa de festas,/ É um presepe de bestas,/ Se<br />

não for estrebaria:/ Varias bestas cada dia/ Vejo que o sino congrega:/ Caveira mula gallega,/ Deão burrinha<br />

bastarda,/ Pereira mula de albarda,/ Que tudo da Sé carrega” (Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2009).<br />

217 Os versos são: “Outra vez vos não metais/ sentir alheios trabalhos,/ que dirão, que comeis alhos/ galegos,<br />

pois vos queimais:/ e porque melhor saibais,/ que os zotes, de que haveis dor,/ são de abatido valor,/ vede nos<br />

vossos sentidos,/ quais serão os defendidos,/ sendo vós o defensor.” Essa décima é continuação da intitulada<br />

“Ao padre Manuel Alvares capellão da Marapé remoqueando ao poeta huma pedrada que lhe deram de noyte<br />

estando se provendo: e perguntandolhe porque se não satyrizava della! escandalizado, e picado, porque o<br />

poeta havia satyrizado os clerigos, que vinhão de Portugal” (Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2009).<br />

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