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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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eneditinos que moravam no convento que dera origem à, então, vila de Boa Vista, e põe<br />

em relevo que “Se, ao presente, sua vida é precária, deve-se isso à falta de imigração e ao<br />

pouco valor das reses (60$ por cabeça, em média), cotadas conforme o capricho dos três<br />

únicos marchantes que monopolizam o mercado” (Las Casas, 1939: 11). Las Casas parte de<br />

Boa Vista rumo a Manaus, mas antes de narrar o seu périplo em direção à capital do<br />

Amazonas dedica umas linhas ao resumo da plácida sensação bucólica que teve nos dois<br />

dias que passou na futura capital de Roraima:<br />

Passei dois dias na Boa Vista, e confesso que foram quarenta e oito horas de insofismável felicidade.<br />

Os naturais são muito bondosos e de uma singeleza comovedora. Ah, quem me dera poder viver<br />

sempre aqui!... Levantar-me ao romper do dia e saborear um bom café paulista, duas horas após o<br />

apetitoso prato de canjiquinha ou as rabanadas de pão com leite – aqui denominadas “segura-peito” –<br />

; o lunch no Café do Turco, jogando uma partida de dominó e, ao entardecer, a ceia, que consiste em<br />

boa carne com legumes e, à sobremesa, frutas abundantes; em seguida umas horas de palestra ao<br />

relento, um padre-nosso a São Sebastião – o santo mais estimado na devoção popular – e... a dormir<br />

em paz e na graça de Deus (Las Casas, 1939: 12).<br />

A viagem até Manaus é por rio, primeiro pelo rio Branco e a bordo da lancha Fama.<br />

Las Casas descreve a paisagem da singradura, refere-se ao convívio com os outros<br />

passageiros a bordo da lancha e à vida nos portos em que se detém a embarcação. O autor<br />

sabe que não é o pioneiro, como intelectual estrangeiro, a percorrer esse espaço e diz se<br />

emocionar ao evocar os que o antecederam 530 , mas sente que a sua disposição lhe<br />

proporciona uma capacidade de percepção incomum nos turistas convencionais:<br />

530 Do início de Na labareda dos trópicos, é constante a menção ao repertório bibliográfico que supostamente<br />

Las Casas teve presente durante a realização da sua viagem. Já na primeira página, no Prefácio, ele diz que se<br />

lembrava da façanha realizada pelos conquistadores espanhóis e portugueses que, no séc. XVI, concorreram<br />

pelo domínio na região fronteiriça marcada pelo rio Branco. Ainda no Prefácio menciona a Unamuno quem<br />

ao meditar sobre a unidade espiritual ibérica, vaticinou que esta “se daria no mundo sul-americano” e a<br />

Keyserling quem, na sua passagem pelo Brasil, notara “a disparidade essencial com a psique portuguesa”. No<br />

capítulo primeiro – Navegando o Rio Branco – comenta que, durante a travessia de Boa Vista a Manaus, na<br />

lancha Fama passava horas lendo as obras em que se aludia às características do território onde ele se<br />

encontrava: “Não tenho à mão as famosas “Relações” do conde de Stradelli, nem o notável “Dicionário” de<br />

Silva Araújo, nem o “Diário” de Netterar, porém vou aprendendo bastante na obra de Jacques Ourique, “O<br />

vale do Rio Branco”, que o P. Meyer me emprestou, e lendo-o e recordando-o, passo horas e horas cativado”<br />

(Las Casas, 1939: 14). Quando, na lancha, seguindo o curso do rio Branco, atinge a “região das cachoeiras”<br />

recorda alguns viajantes ilustres anteriores a ele: “Emociona o pensar que por aqui andaram Coutreau,<br />

Ricardo e Roberto Schomburgk, Humboldt, Pickwick, Oxford, Emilio Snethlage...” (Las Casas, 1939: 13).<br />

Em Manaus, Las Casas (1939: 19) refere-se aos viajantes intelectuais que o antecederam visitando e<br />

descrevendo a capital do Amazonas: “E vêm Martius, Steinen, Paul Ehrenreich, Lucien Adam, Bluchat, Rivet,<br />

Crequit-Contfort e Schueller, e o Barão de Sant’Ana Néri se encarrega de dizer o que é isto aos que não<br />

podem vir”.<br />

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