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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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da cidade das flores, brasileiro, e de antiga prosápia, o Prefeito Assis Figueiredo, dez anos à frente do<br />

município, e cujo nome os habitantes de Poços-de-Caldas têm sempre à flor dos lábios.<br />

Traçado moderno, sem monotonia e sem extravagâncias; ruas destinadas a uma população muito<br />

superior à de agora; arborização caprichosa; pavimentação perfeita; copiosa iluminação elétrica,<br />

provida de cabos subterrâneos; avenidas amplas; passeios cobertos de sombras; jardins, jardins por<br />

toda a parte, esmaltados de flores de variadas espécies (Casais, 1942b: 14).<br />

A exaltação do caráter nacional e, propriamente mineiro, de todo o relativo a Poços<br />

de Caldas abrange também a comida e os vinhos, assunto ao que Casais bastantes<br />

parágrafos. Lamenta que possa haver lugares como Poços de Caldas em que se dê<br />

predomínio à cozinha internacional – “boa quando pura, e raramente o é” – em detrimento<br />

da culinária local, que dispõe de recursos “inesgotáveis”. O seu protesto vai acompanhado<br />

da seguinte justificativa:<br />

Que não nos privem da delícia de nos sentarmos a mesa que seja servida de pratos e vinhos da<br />

região! A cozinha é um expoente da civilização dos povos. O único permanente. Tudo passa,<br />

evoluciona, muda e morre, a cozinha permanece. Define os povos e as raças. Por isso em minhas<br />

viagens faço questão de respeitar as cozinhas regionais e locais, e a maior homenagem que se pode<br />

prestar a arte culinária de um país é consagrar-lhe todos os nossos sentidos ante o regalo esplêndido<br />

de uma mesa bem posta (Casais, 1942b: 29).<br />

Comenta, inclusive, o cardápio de um almoço que ele organizara 477 , a pedido de<br />

uma veranista, para uns “hóspedes platinos”, baseado em iguarias exclusivamente mineiras<br />

– um cardápio “bem brasileiro, bem mineiro, bem caldense” –:<br />

477 Eis o cardápio: “– Comecemos pelos hors d’oeuvre, poucos e seletos para não destruir o apetite. Que não<br />

falte das travessas, ricamente adornadas, o presunto cozido dos frigoríficos nacionais, comparável sem<br />

desdouro ao “Jamón de York” de universal renome, nem os palmitos contornados de rodelas de ovos cozidos,<br />

nem os peixes com escabeches à moda do país, nem a manteiga riquíssima da Serra da Mantiqueira. – Depois,<br />

um prato leve de ovos, que seja omelete de legumes ou então ilustrado das mil maneiras susceptíveis de ferir a<br />

vista sem prejudicar o estômago; ou ainda um peixe sem grandes temperos nem complicações para não<br />

estragar o que se lhe seguirá imediatamente, que eu recomendaria fosse um ‘frango de molho pardo’ ou,<br />

talvez melhor, um ‘tutu à mineira’ com os competentes torresmos, não demasiado grandes, e, em prato<br />

complementar, mas separado, uma salada simples de alface e tomates, colhidos na madrugada precedente em<br />

qualquer chácara vizinha. – Queijos? Sem falta. Il n’y a pás de dejeuner sans fromage. Tantos quantos vierem<br />

serão bem-vindos nesse cardápio! Pela qualidade do prato de resistência, porém, apresentaria para não o<br />

prejudicar, uns cremerinos do dia. – Como sobremesa, porque as sobremesas afagam e alegram a vista, uma<br />

‘mostra’ dos doces locais e uma boa cesta de frutas caldenses, da qual não se poderia subtrair, sem grave falta,<br />

as uvas Riesling nem os figos ‘pinga de mel’. – Café sul-mineiro, daquelas fazendas que se entrevêem da<br />

Pedra-Balão. – E os vinhos? Não sou partidário dos aperitivos, que matam aquilo que pretendem avivar. Se<br />

porém é de rito oferecer um cocktail há elementos de sobra para constituir fórmulas excelentes, sem sair dos<br />

recursos locais. Para os hors d’oeuvre um Velho Junqueira bem frio, mas não gelado. O mesmo vinho para o<br />

prato seguinte. Com o tutu um bom Montanhês temperado. Depois da salada, água mineral bem fria, que pode<br />

ser indiferentemente Caxambu, Lambari, Cambuqueira ou São-Lourenço. Com a sobremesa vem a pedir de<br />

boca um moscatel galego. E depois do café um conhaque servido, se possível, em taça de degustação para que<br />

não se vá o bouquet. Estou informado de que os hóspedes da minha boa amiga relembraram até o momento<br />

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