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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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esta é desigual, em alguns setores tendendo a submeter-se completamente ao espírito do meio que<br />

encontrou. Haja vista o caso da música popular, em que se nota perfeita aceitação da melódica<br />

cabocla por parte dos hispano-paulistas, pelo menos na zona rural catanduvense, onde o gosto pelas<br />

modas de viola, tão caboclas e tão nossas, é bastante acentuado, embora não se apresentando no nível<br />

de regiões como as de Piracicaba e Tietê, onde o caruru e a caninha-verde imperam<br />

sobranceiramente. É aqui que cabe assinalar o valor impressionante do rádio, do cinema e do<br />

carnaval como agentes de difusão da música brasileira e da nacionalização do paladar emigrante na<br />

reavaliação musical. Observações próprias, relativas às regiões vizinhas nas Fazendas Pacatuba e<br />

Fortaleza, situadas a meio caminho de Catanduva e Tabapuã, zona do Córrego Seco, de imensa<br />

povoação espanhola, atestam isso. Aí o gosto pelos programas radiofônicos caipiras é enorme, em<br />

volta dos dois rádios que há nas proximidades se ajuntando a gente, cuja sensibilidade é tocada pelas<br />

melodias e comicidade de Ranchinho e Alvarenga e outros pares semelhantes. Uma moda cabocla<br />

que ouvia, na cidade, e cujo nome não sabia, foi-me, com toda precisão, identificada e quase repetida<br />

por P.P., filho de espanhóis, residente naquela fazenda. Acaso? Não, é que era ele, conquanto<br />

brasileiro de primeira geração, mais caboclo (por aceitação tácita do espírito brasileiro rural) que eu,<br />

descendente da velha família nacional mas meio internacionalizado pelas condições de estudo e<br />

hábitos mentais.. Essa aceitação não implica, naturalmente, desistência total da música dos<br />

ascendentes; certos elementos, pelo menos, parece-nos que permanecerão, como será mostrado<br />

adiante (Rangel, 1951: 400).<br />

Nessa monografia, Rangel examina, na zona de Catanduva, em primeiro lugar, as<br />

contribuições do folclore espanhol dos imigrantes ao folclore aborígine – nacional – e, viceversa,<br />

e, em segundo lugar, o grau de aceitação, entre os espanhóis, do folclore nacional.<br />

Diz que os espanhóis catanduvenses que ele acompanhou procediam de Andaluzia e<br />

Castela; no entanto, dessas regiões só indica duas províncias – Almeria e Salamanca –<br />

como lugares de nascimento dos imigrantes. O autor salienta que o processo de assimilação<br />

de influências por ele verificado acontecia “inconscientemente, sem intenção nenhuma”<br />

(Rangel, 1951: 399) e que os costumes folclóricos espanhóis eram conservados melhor e<br />

por mais tempo entre os imigrantes mais humildes. A respeito da mais rápida assimilação<br />

de traços culturais exógenos por parte das “classes elevadas”, Rangel especifica o seguinte:<br />

Nisso há, entretanto, muito de legítima elegância, de “chic”, de consciência; nelas a própria<br />

conformação exterior da vida as conduz para uma internacionalização de hábitos, crenças e opiniões<br />

que facilita a assimilação. É verdade que, nesse particular, não há, na cidade em questão, pelo que<br />

conhecemos, dessas famílias enfatuadas dentro das suas rivalidades raciais e nacionais, muito<br />

comuns em outros lugares de colonização. Pensamos que contribui para isso a circunstância<br />

favorável de se encontrarem convivendo três grupos diversos, o brasileiro, o espanhol e o italiano;<br />

quando estão frente a frente apenas dois grupos nacionais, parece que se reforça a consciência do<br />

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