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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Viajando de trem em direção a Madri, ao se interromper a circulação devido ao<br />

início da confrontação, Soares d’Azevedo tem que descer no que, para ele, é um espaço<br />

ermo. Completará o percurso até Madri em uma automóvel particular. Já na narração desse<br />

acontecimento, o autor relaciona o que começava a acontecer na Espanha com o levante<br />

comunista no Brasil em 1935:<br />

Mas logo me interrompem:<br />

– Meus senhores, irrompeu a revolução na Espanha! Estão suspensos os trens. Queiram descer –<br />

gritaram-nos da estação.<br />

E aí está como nesse trágico meado de julho me vi só na Espanha, dentro de uma revolução<br />

comunista, dentro da mais vasta e mais sangrenta guerra civil de que possam dizer os anais da<br />

história do mundo.<br />

[...] Pipocam os primeiros tiros. Erguem-se as primeiras barricadas. A guarda civil toma posições, e<br />

com ela as tropas de assalto, os milicianos e as forças regulares. Um automóvel nos leva célere para<br />

baixo, rumo a Madrid. De onde a onde, pelos povoados, grupos de mulheres em desalinho erguem os<br />

punhos fechados e gritam:<br />

De norte a sul,<br />

de leste a oeste,<br />

libertad para Prestes!<br />

– Estranho! – pergunto ao civil armado que nos pede a documentação – Que significa isso?<br />

– Não sabe? Prestes, a maior vítima dos vaticanistas brasileiros. Mas também chegará a vez do<br />

Brasil. Toda a Espanha tem vivido meses de revolta com o atentado brasileiro aos operários,<br />

camponeses e soldados, que o bravo Prestes tão bem encarnava. Ouvirá o senhor essa canção em<br />

todas as províncias, em todos os “pueblos”, grito de protesto da alma espanhola livre. Malditos<br />

vaticanistas – fascistas (Soares d’Azevedo, 1936: 16-17).<br />

sangue... com a de Na Europa. A demora para o lançamento de Na Europa fez com que as crônicas nela<br />

contidas sobre a Espanha ficassem desatualizadas. Eis a descrição que Alfredo Mesquita faz de Madri:<br />

“Quando chegamos à cidade já é noite e a impressão que tenho é de estar numa grande capital, rica e luxuosa.<br />

As construções não são das mais harmoniosas, mas os cafés, imitados dos de Paris, os teatros e os cinemas<br />

enchem a cidade de animação e de luzes. Nas ruas centrais alinham-se grandes hotéis e clubs luxuosos;<br />

automóveis de classe trançam em todas as direções. O meu, vira à direita e, sem transição, entramos na cidade<br />

velha, que lembra Lisboa e em como ela ‘un charme un peu vieillot qui plait encore...’. Na Hespanha é<br />

sempre à noite que o movimento das cidades chega ao auge. Na capital é lá pelas nove, hora em que a<br />

rapaziada sai para ver as pequenas. Há pelas calçadas da Calle Alcalá grande barulho e alegria; toda essa<br />

multidão é simpática e mesmo a sua expansão não é exagerada. Comparando-a com seus descendentes<br />

argentinos, parece-me muito mais distinta do que estes; quem sabe se a mudança de continente não foi<br />

propícia à raça... O que também impressiona bem no povo espanhol é o esmero no vestir-se; toda gente anda<br />

bem penteada, perfumada (sempre o mesmo perfume que lembra o de flor de laranjeira), e as dentaduras são<br />

maravilhosas. As mulheres enfeitam-se muito, usam muitos cachos, pintam-se exageradamente, mas<br />

conseguem assim mesmo conservar-se bonitas. De dentro dos cafés os que infelizmente já passaram da idade<br />

espiam a mocidade, loucos por aderir...” (Mesquita, 1937: 129-30).<br />

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