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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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horizontinos tem, porém, um difícil amparo científico. Tal parecer indica que galegos e<br />

mineiros compartilham traços em atitude e discurso. A desconfiança, a ambigüidade, a<br />

prudência, o jeito matuto e a ironia sorrateira, e as conseqüentes posições conservadoras,<br />

marcariam a simpatia entre eles, mas, aqui, não podemos dar mais valor que a esses<br />

pareceres que o próprio das informais opiniões subjetivas.<br />

Durante o desenvolvimento deste trabalho, a menção mineira à Galiza em que se<br />

retrocede mais no tempo, que foi localizada, está no ensaio O diabo na livraria do cônego,<br />

1981, de Eduardo Frieiro, filho de imigrantes galegos 177 . O ensaio refere-se à biblioteca do<br />

cônego Luís Vieira da Silva, lente de Filosofia na Sé de Mariana e um dos implicados na<br />

Conjuração Mineira de 1789. Ele tinha uma variada e notável biblioteca, na então<br />

longínqua e mal povoada Capitania das Minas Gerais, formada por um milheiro de livros,<br />

que foi seqüestrada pelas autoridades da Devassa, o qual permitiu que se conhecessem<br />

quais eram todos os títulos, pois uma relação deles figura nos Autos de Devassa da<br />

Inconfidência Mineira. Eduardo Frieiro faz um escrutínio dessa biblioteca e investiga quais<br />

puderam ser as inclinações do cônego na sua escolha dos títulos. Frieiro conclui que, apesar<br />

do isolamento que supunha residir na Capitania das Minas Gerais em finais do séc. XVIII e<br />

das conseqüentes dificuldades para a aquisição de livros, e apesar das proibições régias, o<br />

cônego pôde acompanhar as idéias da ilustração, o enciclopedismo, o racionalismo e o<br />

utilizamos, para os fins da análise comparada, por um lado, o ensaio de Valentín Paz-Andrade intitulado A<br />

galeguidade na obra de Guimarães Rosa (Paz-Andrade, 1983) por ela conter a reflexão em torno aos<br />

elementos de um possível repertório cultural galego latente na circunstância sertaneja recolhida na produção<br />

literária de Guimarães Rosa. Por outro lado, utilizamos o Ensaio sobre a cultura galega, de R. Otero Pedrayo<br />

(1954) devido à reflexão ao redor da “alma nacional” dos galegos desenvolvida pelo autor.<br />

177 No séc. XVIII encontramos uma recorrente alusão a D. Quixote e Sancho Panza, nas suas representações<br />

estereotipadas de, respectivamente, idealismo e materialismo, nas Cartas Chilenas atribuídas ao inconfidente<br />

Tomás Antônio Gonzaga. O estudo da obra, e a explicação dessas alusões, foram feitos por Rodrigues Lapa<br />

(1958), professor no início da década de 1960 na Universidade de Minas Gerais (parte da atuação de<br />

Rodrigues Lapa em Belo Horizonte pode ser entrevista através da sua correspondência – Correspondência de<br />

Rodrigues Lapa, 1997 – ). Rodrigues Lapa (1958: 151) acredita que o personagem Critilo das Cartas<br />

Chilenas pode proceder de um personagem homônimo de El Criticón, do jesuíta Baltasar Gracián, obra<br />

existente na livraria de Cláudio Manuel da Costa. Em 1938, Miram de Barros Latif publicou um ensaio<br />

intitulado As Minas Gerais (Latif, 1991) em que reflete acerca da formação do Estado de Minas Gerais, desde<br />

a descoberta das primeiras jazidas de ouro até o encerramento definitivo do ciclo de ouro em 1935. No<br />

capítulo O espírito das Minas (Latif, 1991: 209-213), o autor visa reconhecer quais são os elementos<br />

constitutivos da idiossincrasia do homem mineiro. Assim, ele observa que, no séc. XVIII, o mineiro, nos<br />

árduos trabalhos das lavras, “adquiriu a imaginação e os arrojos de entusiasmo romântico de um verdadeiro<br />

Quixote” (Latif, 1991: 210) e, para sobreviver às penalidades, “adquiriu as ponderações de Sancho” (Latif,<br />

1991: 211).<br />

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