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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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uscada no fluir da corrente, no vagar do rio, na fronteira que os separa da terra firme (Peres, 2003:<br />

44-45).<br />

Em função das chances de arrumar um serviço bem remunerado, o imigrante<br />

escolhe o destino da sua viagem. A ele quererá chegar no menor prazo de tempo e no meio<br />

de transporte mais em conta. Todavia, desde esse destino e através das lentes da alteridade,<br />

o imigrante predisposto pode refletir acerca da sua experiência não-nacional. Se assim<br />

acontece, a visão dos traços diferenciais dos campos sociais de um país estrangeiro serve de<br />

contraste para sopesar as particularidades distintivas do próprio país. Mas esse exercício<br />

reflexivo cabe também a um viajante observador. Ambos, o imigrante e o viajante, podem<br />

conferir, como conseqüência da estada no exterior, as imagens distintivas da sua identidade<br />

e as representações da identidade do seu país de origem. Caso eles não retornem, reunidos<br />

em coletivo de patrícios podem reproduzir no exterior as suas representações nacionais.<br />

Contudo, corre-se o risco de que estas acabem ficando temporalmente distanciadas da<br />

realidade do país de origem, convertendo-se em representações do que o país era.<br />

III. 1. 5. A viagem e o estrangeiro<br />

A viagem funciona, também, como um acicate para que o estrangeiro confirme a<br />

normalidade da sua idiossincrasia. Da comparação circunstancial entre os campos da<br />

sociedade própria e os da sociedade estrangeira cujo país se visita, o estrangeiro pode<br />

concluir que a sua nação compartilha traços identitários e que há uma relação de paridade<br />

entre ele e o outro – o natural –.<br />

Contudo, quando a paridade não existe, isto é, no caso em que um dos dois campos<br />

sociais – o do deslocado ou o dos nativos – seja considerado desigual, o estrangeiro, ou<br />

obtém a convicção autocomplacente do bem-estar da sua pátria, ou descobre no país<br />

visitado modelos emuláveis dos quais se extraírem paradigmas de bom funcionamento.<br />

Em uma análise de representações nos relatos de viagens de intelectuais brasileiros<br />

ao Oriente, sobretudo, ao Japão, publicados desde finais do séc. XIX pelas principais<br />

editoras do Brasil, o historiador norte-americano Jeffrey Lesser comenta que “Os viajantes<br />

criaram um Brasil a milhares de quilômetros de sua localização física. As descrições do<br />

outro lugar representavam sempre as esperanças acalentadas para o aqui” (Lesser, 2000,<br />

266). Conforme expõe Lesser (2000: 266-300), no sistema político e econômico do Japão<br />

moderno e, portanto, quase ocidental, radicalmente transformado pela Restauração Meiji e<br />

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