DICIONARIO INTERNACIONAL DO ANTIGO TESTAMENTO

2058 (qãtsap)
q e ts e p . In d ig n a ç ã o , ira. Em Oséias 10.7 qetsep deriva de qãtsap II, palavra
relacionada a um vocábulo árabe que significa “romper”, “quebrar com ruído”. BDB traduz
o substantivo provavelmente com o sentido de “farpa” (como símile indicativa de um rei
desam parado); GB, como “pedaço de m adeira” (Holzstück); KB, com o “galho partido”
(abgeknickter Zweig). Veja-se qãtsap II abaixo.
Três vezes esse substantivo é empregado com referência a homens. Em dois desses
casos (1 Rs 3.27; Et 1.18) pode-se dizer que essa ira humana é justa ou justificável.
M oisés, Josué, Isaías, Jeremias, o escritor de Crônicas e Zacarias ou advertem ou falam
acerca da justa ira de Deus, a qual vem sobre o seu povo, que tem sido infiel à aliança.
O tema da ira de Deus tem sido debatido pela Igreja ao longo dos séculos. O consenso
tem sido (acertadamente) de que a ira em si m esm a e por si só não é algo
necessariam ente mau. Lactâncio, que não faz uma clara distinção entre os vários
sinônim os, falou da “ira com o a mente que se desperta para restringir o m al”;
“indignação” é a expressão dessa ira de diversas maneiras para restringir o mal, corrigir
o pecador e castigar o rebelde endurecido e obstinado. Entretanto, a ira não é
sim plesm ente uma energia da justiça divina que está basicamente interessada na
preservação da ordem divina das coisas. Pelo contrário, a ira (da qual não se pode separar
a justiça retributiva) diz respeito à proteção dos interesses santos de Deus, ou seja, sua
natureza santa, seu amor e os objetos de seu amor. Por essa razão, a ira se encontra
inseparavelm ente ligada ao amor, santidade e ciúme divinos. Aliás, a ira de Deus fala
diretam ente acerca de Deus manter-se total e completamente como um Deus santo que,
com um a paixão infinita, ama o povo da sua aliança e, por isso, é m uito ciumento em
relação a ele. Quando as pessoas de fora ou o próprio povo da aliança profana, distorce
ou rejeita esse am or do Deus da aliança, Deus expressa o seu aborrecimento, agitação,
insatisfação, indignação e/ou ódio: ele despeja a sua ira.
A ira de Deus não deve, então, ser considerada um atributo perm anente de Deus; é
um potencial divino sempre presente por causa das qualidades divinas sem pre presentes
de amor, santidade e ciúme. De modo que, toda vez que Deus revela a sua ira, ele sempre
m anifesta a sua própria “grandeza inescrutável*. É necessário que a sua ira se expresse
em harmonia com a sua justiça. A culpa resultante da quebra da lei deve ser tratada de
acordo com as justas exigências da lei (Dt 29.13). Entretanto, a operação da ira divina é
contrabalançada por sua graça e misericórdia. De fato, é no meio da ira que Deus revela
a sua misericórdia (Hc 3.2), manifestando e outorgando a sua graça sobre pecadores
culpados (Gn 3.15). Fora das considerações sobre o que exige a justiça, nada há de “ódio
despótico” ou de “dem oníaco na natureza de Deus” (ao contrário do que pensa EICHRODT,
ETOT, v. 1, p. 262) que o leve a despejar a sua ira ou a determinar o objeto, o método e a
ocasião para isso.
B ib lio g r a fia : — EICHRODT, W. Theology o f the Old Testarnent. SCM, 1961. v. 1, p.
258-69. — JACOB, E. Theology o f lhe Old Testarnent. Nova Iorque, Harper & Brothers,
1958. p. 114-6. — LactanTIUS. On the anger o f God. In: Ante Nicene fathers. reimpressão.
Eerdmans. v. 7, p. 259-80. — TASKER, R. V. J. The Biblical doctrine o f the wrath o f God.
Londres, Tyndale, 1970. — THAT. v. 2, p. 663-5.
G.V.G.
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