DICIONARIO INTERNACIONAL DO ANTIGO TESTAMENTO

463 bnn (hãbal)
O nome próprio Abel, o segundo filho de Adão, também se grafa fiebel. Uma possível
conexão entre esse nome e a raiz aqui estudada é questão à parte. A maioria dos léxicos
hebraicos relaciona “Abel” à cognata acadiana ablu ou aplu, “filho”. Deve-se observar que
Abel é mencionado em Gênesis 4 sem nenhuma explicação, fato que não pode deixar de
ter significado, já que quase todos os nomes próprios em Gênesis são explicados por
assonâncias.
O significado básico de hebel é “vento” ou “sopro”. As passagens que melhor ilustram
isto são Isaías 57.13, “Leva-los-á o vento (rüah): um sopro (hebel) os arrebatará a todos”,
e Provérbios 21.6, “Obter tesouros com língua mentirosa é um sopro fugidio (hebel
niddãp)”. O verbo nãdap, que significa “impelir", é usado freqüentemente para descrever
o vento como a força que impele ou carrega algo (Sl 1.4; 68.2(3]).
Há três categorias básicas ou contextos em que hebel é usado. Primeiramente, é
usado como designação dos falsos deuses adorados pelo povo de Deus e. por isso, é
traduzido em tais contextos por “ídolos” ou palavras cognatas na ARA: Deuteronômio
32.21; 1 Reis 16.13, 26; 2 Reis 17.25; Jeremias 2.5; 8.19 (paralela a pesei); 10.8, 15; 51.18
Jonas 2.9: Salmos 31.6[7].
Em segundo lugar, o termo representa os sentimentos individuais e, às vezes,
exasperantes das pessoas. Isaías 49.4, onde o servo, Israel, diz: “Debalde tenho trabalhado
(riq), inútil (tõhâ) e vãmente (hebel) gastei as minhas forças”. Jó reclama da brevidade
e da incerteza de sua vida (7.16). Compare a idéia semelhante no saltério: Salmos 39.5,
6, 11(6, 7, 121; 62.9(101; 78.33 (em que hebel é paralelo a behãlâ, “apressar”); 94.11; 144.4
(hebel paralelo a tsêl). Daí, hebel parece possuir o sentido de “breve”, “efêmero”.
Em terceiro lugar há o grupo de referências encontradas em Eclesiastes (36). Estas
referências podem ser agrupadas em várias subdivisões. Primeiramente há as passagens
em que o autor afirma sua incapacidade de encontrar realização em seu trabalho, tanto
por não conseguir ser criativo quanto por não conseguir controlar o livre uso e o destino
de suas posses; isso é “vaidade”: 2.11, 19, 21, 23; 4.4, 8; 6.2. Depois vêm aqueles versículos
em que o autor luta com a idéia de que a conexão entre pecado e juízo, justiça e
livramento nem sempre é direta ou óbvia. Isso é uma anomalia da vida e é “vaidade”:
2.15; 6.7-9; 8.10-14. O significado de hebel aqui seria “sem sentido”. Por fim, há aqueles
versículos em que o autor lamenta a brevidade da vida: isso também é “vaidade”: 3.19;
6.12; 11.8, 10. A vida, em sua qualidade, é “vazia” ou “vacuidade” (e assim insubstancial),
e em sua quantidade é “transitória”.
Em vez de entender as observações acima como conclusões definitivas sobre a vida
por parte do autor de Eclesiastes, devemos vê-las como indicação do método que ele usou
e de sua premissa oculta. Ele pode estar tentando demonstrar a incapacidade humana
de encontrar sentido para a vida sem ajuda da revelação e da intervenção divinas. Tal
tentativa independente sempre resultará em inutilidade.
B ib liogra fia : GORDIS, R., Koheleth: the mari and his world, 3. ed., Schocken, 1968.
— GUILLAUME, A., Paranomasia in the Old Testament, JSS, 9:282-90, esp. p. 282-3, onde
se encontra uma proposta de etimologia do nome próprio “Abel” derivada do árabe. —
KlNLAW, D. F., Ecclesiastes The Wesl&yan Bible Comrnentary, v.2, Eerdmans, 1968. —
M EEK, T. J., Translating the Hebrew Bible, JBL, 79:328-35, esp. p. 330-1. — S t a p l e s , W.
E., The “vanity” o f Ecclesiastes, JNES, 2:95-104. — TIIAT 1:467-9.
V.P.H.
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