DICIONARIO INTERNACIONAL DO ANTIGO TESTAMENTO

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amargura me tem dado o Todó-Poderoso” (Rt 1.20).
É interessante observar que os hebreus exprimiam experiências trágica*,
desagradáveis, descrevendo-as pelo sentido do paladar como amargas. Na realidade
empregamos a mesma figura de linguagem: Foi uma experiência amarga; não foi de bom
gosto aquilo que ele fez; sua esposa se veste sempre com muito bom gosto.
Para a raiz m ã r a r somos de opinião que deve-se aceitar não apenas a tradução
tradicional, “ser amargo/amargurar”, mas também a tradução “ser forte/fortalecer”. A
razão disso é que a raiz ugarítico-árabe-aramaica m r r pode ter o sentido de “fortalecer,
abençoar, elogiar”. Em pelo menos quatro passagens do AT parece que essa é a tradução
preferível. Desse modo, talvez uma melhor tradução de Êxodo 1.14 não seja “e lhes
fizeram amargar a vida”, mas “e lhes fortaleceram as vidas”, isto é, os egípcios, ao impor
trabalhos pesados, apenas tornaram os hebreus mais persistentes. O contexto sugere essa
possibilidade. Juizes 18.25 refere-se não a “homens de ânimo amargoso”, mas a “homens
de ânimo resoluto”. Eclesiastes 7.26 tradicionalmente traz: “Achei coisa mais amarga do
que a morte, a mulher cujo coração são redes e laços”. Observa-se, no entanto, que o autor
não está dando ênfase à amargura de uma mulher, mas à sua determinação; daí “Achei
coisa mais forte do que a morte” (cf Ct 8.6). Finalmente Ezequiel 3.14 diz: “eu fui
amargurado na excitação do meu espírito.” Mas por que o profeta haveria de estar
amargurado, especialmente à luz do que ele viu e ouviu nos versículos 12 e 13? Propomos
a tradução: “Prossegui fortalecido pelo fervor do meu espírito”.
m ar. A m a r g o , f o r t e . Este vocábulo aparece 37 vezes no AT. Na maioria das vezes usa-se
o adjetivo num sentido figurado, como acontece com o verbo, para descrever uma emoção,
embora se achem uns poucos exemplos de m a r num sentido literal. As Escrituras falam
de cachos de uvas amargas (Dt 32.32), águas amargas (Êx 15.23), alimentos (Pv 27.7) que,
embora amargos, são saborosos para os famintos (c f Is 5.20).
Entre os usos literais há um interesse especial na frase “água amarga”, em Números
5.18-19, 23-24, 27. Mistura de água, pó tirado do chão e tinta, sendo por isso mesmo algo
decididamente não-higiênico, a água amarga era usada num caso específico de
investigação, para determinar se tinham ou não fundamento as suspeitas do marido
enciumado de que sua esposa estava sendo infiel. Fica óbvio que a idéia é que
freqüentemente a consciência de culpa produz sintomas somáticos, o princípio sobre o qual
baseia-se o funcionamento do detector de mentiras. Às vezes essa investigação é chamada
de ordálio ou juízo de Deus, mas tal designação não é muito precisa. O ordálio, usado na
antigüidade e até a Idade Média, exigia que o acusado se submetesse a claros riscos
físicos, tais como andar pelo fogo ou ser lançado ao rio estando amarrado. Supunha-se que
era inocente todo aquele que não sofresse dano físico. O ordálio era comum na Assíria,
mas o AT empregava, em vez disso, meios mais sensatos de obter provas, como aqueles
a que estamos acostumados. A “água amarga” é, na verdade, mais como um detector de
mentiras, conforme sugerido acima. Apenas uma mulher inocente seria normalmente
capaz de submeter-se a essa cerimônia solene sem ter uma crise nervosa. O efeito
adicional, que não tinha que ver com a água sem higiene, era provocado pela providência
divina ao punir a culpada.
Conforme assinalamos acima, o uso mais comum de m a r é no sentido figurado para
exprimir a reação emocional a uma situação destrutiva e arrebentadora de emoções.
Algumas dessas situações eram: 1) esterilidade, no caso de mulheres (1 Sm 1.10); 2)
desejo não realizado de morrer (Jó 3.20); 3) graves problemas familiares (Gn 27.34); 4)
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