DICIONARIO INTERNACIONAL DO ANTIGO TESTAMENTO

1064 ^ (lõ’)
le pode ainda exprimir a relação construta em casos em que uma estrutura construta
não soasse bem ou fosse gramaticalmente impossível. Esse emprego é especialmente útil
caso o escritor desejasse manter indefinido o item possuído (e.g., “dois escravos ‘para’ [ou,
possuídos por] Simei”, o que significa não “os dois escravos de Simei”, mas “dois dentre
os escravos de Simei”, 1 Rs 2.39).
O agente da passiva pode ser introduzido por essa preposição: “Bendito seja Abrão
‘pelo’ Deus Altíssimo” (Gn 14.19). Com base numa perspectiva meramente descritiva, o
objeto direto de alguns verbos é assinalado por le, por exemplo, “os teus inimigos te
apertarão” (Dt 28.53; lit., “os teus inimigos apertarão ‘com referência a’ ti”) e “livra-nos”
(Js 10.6; lit., “opera livramento ‘em favor de’ nós”). Esse uso é comum em aramaico.
Empregada com infinitivos, o sentido pode ser o de indicar propósito (“de [ou, para]
nascer”, Ec 3.2), resultado (“‘para’ [ou, de modo a] andares, Dt 8.6), infinitivo de referência
(“somente que, ‘com referência a sair’ [ARA, ‘saindo’], não vades muito longe”, Êx 8.28) ou
infinitivo objetivo (“começaram ‘a’ multiplicar-se”, Gn 6.1, EBB).
Existe, além destes, um significado adicional de le, sugerido com base no ugarítico e
agora aceito por muitos em hebraico: o sentido de “desde”. Gordon afirma que o aspecto
mais interessante das preposições ugaríticas é que tanto b como l tem o significado de
separação e afastamento (“desde”, “a partir de”; UT 10:1). Ele alega que esse é o caso de
Salmos 84.11 [12] (ARA, “sonegar a”) e também de Josué 3.12, onde “um [homem] de cada
tribo” (lit., ’ish-’ehãd lashshãbet, com o emprego da preposição le) é paralelo a Josué 4.2,
4, em que a mesma expressão aparece com a preposição min. Dahood apresenta outros
exemplos tirados de Salmos (Psalms, AB, v. 3, p. 394). O léxico de Holladay não apresenta
este uso, mas reconhece um sentido enfático e asseverativo, no que concorda com Dahood.
1064 (lõ’) não.
Lõ’ era o termo hebraico básico para a negação factual, em contraste com ’al, que
tipicamente descreve a negação em potencial. Outras partículas negativas ocorriam com
menor freqüência para designar a negação factual (e.g., ’ayin, bal e beli). Inicialmente este
artigo examinará as principais funções sintáticas de lõ’ e, em seguida, estudará algumas
negações teologicamente significativas expressas com esta palavra.
Principais funções sintáticas. Emprega-se lõ’ para negar eventos factuais. A palavra
serve para negar eventos genéricos em qualquer tempo. O homem bem-aventurado “não”
anda no conselho dos ímpios (Sl 1.1). Ademais, ele é comparado a uma árvore cuja
folhagem “não” murcha (v. 3). Também nega eventos passados (“não te chamei”, 1 Sm
3.6), presentes (“Eu não sou profeta”, Am 7.14 [muitos preferem entender que o verbo
desta declaração se acha no pretérito, mas existem inúmeras outras ilustrações possíveis
— R.L.H.]), e futuros (“Nunca jamais será habitada”, Is 13.20). E empregada em negações
futuras enfáticas (“E certo que não morrereis”, Gn 3.4). Nega atributos adjetivais, tais
como nas expressões “filho não sábio” (Os 13.13; ARA, “filho insensato”) e “caminho não
bom” (Sl 36.4; ARA, “caminho que não é bom”).
Pode ser usado numa ordem negativa enfática: “Não matarás” (Êx 20.13). No caso
de uma ordem negativa mais branda, usa-se ’al com o jussivo. Jamais se emprega uma
negação com o imperativo hebraico. Usa-se lõ’ em orações subordinadas finais negativas,
como em Êxodo 28.43, “para que não levem iniqüidade”, lõ’ seguido de le com um
infinitivo declara que algo não pode ou não deve acontecer (e.g., “não pôde desapossar”,
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