DICIONARIO INTERNACIONAL DO ANTIGO TESTAMENTO

647 DDH (hãkam)
23.13 e ss. teria sido tomado por empréstimo dos ensinos de Amenemope, embora seja
mais provável que uma fonte original reflita uma revelação de sabedoria). A literatura
ugarítica também possui um tipo de máximas com respeito ao relacionamento pai— filho,
que possivelmente reflete a sabedoria cananéia. Um derivado árabe posterior do verbo
hãkam denota “impedir que alguém aja de maneira maligna”.
A sabedoria do AT, todavia, é bem diferente de outras cosmovisões antigas, embora
a forma da literatura sapiencial seja semelhante à de outras culturas. A sabedoria do A T
reflete o ensino de um Deus pessoal santo e justo, o qual espera que quem o conhece exiba
o seu caráter nas questões práticas da vida. Esta perfeita combinação entre a vontade
revelada de um Deus santo e as experiências práticas da vida humana também é distinta
da sabedoria especulativa dos gregos. A dinâmica ética da filosofia grega concentrava-se
no intelecto; se o indivíduo tivesse um conhecimento perfeito poderia viver uma vida
perfeita (Platão). O conhecimento era virtude. A ênfase da sabedoria do A T era que a
vontade humana, no campo das questões práticas, deveria ser sujeita às causas divinas.
A sabedoria hebraica, portanto, não era teórica e especulativa. Era algo prático, baseado
nos princípios revelados de certo e errado, e devia ser praticada na vida cotidiana.
Nos livros históricos e proféticos, a palavra hokm â é às vezes usada para referir-se
à inteligência ou às habilidades normais (Êx 35.35; Dn 1.4), mas, mesmo aí, algumas
vezes, o que se tem em vista é a sabedoria moral e divina.
A literatura sapiencial, embora por vezes use “sabedoria’' com o sentido de prudência
ou sagacidade, concentra-se no aspecto ético e na conduta espiritual. Por Deus ter-se
revelado a Israel, sua literatura sagrada tem o efeito de um imperativo divino; hãkam
refere-se a uma sagacidade e perícia divinas que resultam em ações práticas. Aquele que
ouve (Pv 8.33; 23.19; 27.11) será operoso, saberá falar, e sua vontade estará cativa à
vontade de Deus. Ele terá vida. Isso lhe valerá a aprovação divina.
hokm â. S a b ed o ria . Os usos de hokmâ cobrem toda a gama da experiência humana. A
sabedoria é vista na habilidade para o serviço técnico de confeccionar as roupas do sumo
sacerdote (Êx 28.3), na perícia em metalurgia e ourivesaria (Êx 31.3, 6), bem como na
execução de táticas militares (Is 10.13). A sabedoria é um requisito para os governantes
e chefes de estado na administração da nação (Dt 34.9; 2 Sm 14.20), incluindo tanto
pagãos quanto israelitas (Ez 28.4, 5). O Messias demonstrará sabedoria e discernimento
em seu papel de líder de seu povo (Is 11.2).
A sabedoria manifesta-se em sagacidade. A mulher de Tecoa evitou um morticínio
em sua cidade com sua petição inteligente em favor dela (2 Sm 20.22). A pessoa sagaz,
todavia, não deve gabar-se do dom que recebeu (Jr 9.22). A avestruz demonstra sua falta
de inteligência ao agir de maneira tola e egoísta (Jó 39.17). O dom da sagacidade pode ser
usado de maneira ímpia para negar a onisciência de Deus (Is 47.10).
A prudência, aspecto da sabedoria, é expressa por aqueles que falam com sabedoria
(Sl 37.30; Pv 10.31) e pelos que usam sabiamente o tempo (Sl 90.12). Esse tipo de
sabedoria nas questões práticas da vida é derivado da revelação de Deus (Is 33.6).
A fonte de toda a sabedoria é um Deus pessoal santo, justo e reto. Sua sabedoria é
expressa contra o pano de fundo de sua onipotência e onisciência. Por sua sabedoria Deus
numerou as nuvens (Jó 38.37), fundou a terra (Pv 3.19) e fez o mundo (Jr 10.12). A
sabedoria, por ser encontrada em Deus, é considerada um atributo divino (Jó 12.13). Ele,
somente, conhece a sabedoria em seu sentido mais verdadeiro (Jó 28.20, 23). A sabedoria
de Deus não se acha na especulação humana. Ele e somente ele pode providenciar esta
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