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DICIONARIO INTERNACIONAL DO ANTIGO TESTAMENTO

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2494 nnn (thh)<br />

Duas passagens em particular requerem um comentário mais longo. A primeira é Jó<br />

26.7: “[Deus] estende o norte sobre o vazio [tõhü] e faz pairar a terra sobre o nada”. O<br />

contexto do capítulo 26 ressalta não apenas a onipotência e a soberania de Deus na<br />

criação e na providência, mas também a facilidade com que ele faz o que lhe agrada.<br />

Embora seja incorreto forçar rigidamente a nossa própria e contingente cosmologia do<br />

século XX nesse capítulo e insistir em interpretá-lo literalmente na sua totalidade (veja-se,<br />

e.g., a metáfora óbvia do versículo 11), ainda assim é marcante o fato de que 26.7 descreve<br />

o mundo então conhecido como suspenso no espaço. Ao assim fazer, antecipa (para dizer<br />

o mínimo!) descobertas científicas futuras.<br />

A outra passagem que requer análise é, obviamente, Gênesis 1.2a: “A terra era tõhü<br />

wãbõhü”. O significado de bõhú em si é incerto (torna a aparecer apenas em Is 34.11 e<br />

Jr 4.23, as duas vezes em contextos com tõhü), embora aparentemente signifique “vazio”<br />

(cf. o possível cognato árabe bahiya, “estava vazio”). Por isso a expressão tõhü wãbõhü,<br />

em Gênesis 1.2a, tem sido entendida de diversas maneiras como uma hendíadis com o<br />

sentido de “um deserto informe” (E. A. SPEISER, Genesis, p. 5), “ausência absoluta de<br />

qualquer coisa” (H. RENCKENS, Israel's concept of the beginning, p. 84), “vazio e lacuna”<br />

(H. E. R y le , The book of Genesis, p. 4 — embora sem total convicção). Mas a tradução<br />

tradicional, “sem forma e vazia”, é muito bem defendida por W. H. Griffith Thomas, em<br />

Genesis — A devotional commentary, em que ele escreve: “parece que os adjetivos ‘informe’<br />

e ‘vazia’ são a chave para entender a estrutura literária do capítulo. O registro dos três<br />

primeiros dias se referem aos céus e à terra receberem a sua ‘forma’ e o registro dos três<br />

últimos dias ao enchimento de seu Vazio’”. Veja-se ainda R. Youngblood, JETS 16:219-21.<br />

A teoria do “intervalo”, que propõe um período de milhares de anos implícito em Gênesis<br />

1.2 e que geralmente traduz 1.2a pela frase menos provável “mas a terra ficara sem forma<br />

e vazia”, tem recebido cada vez menos aceitação em anos recentes. Sua principal base<br />

exegética, Isaías 45.18, traz “[DeusJ não criou [a terra] tõhü” (lit.); essa passagem tem<br />

sido interpretada com o sentido de que, portanto, uma criação original (brevemente<br />

descrita em Gn 1.1) foi destruída, que se seguiram as eras geológicas (durante o<br />

“intervalo”) e que a nova criação, apresentada em Gênesis 1.3 e ss., foi feita a partir dos<br />

restos da anterior. Mas Isaías 45.18, depois da frase citada, passa a dizer que “ [Deus]<br />

formou-a para ser habitada” (lit.), dessa forma assegurando ao leitor que tõhü não era<br />

o seu objetivo final na criação. (Quanto a críticas mais detalhadas da teoria do “intervalo”,<br />

vejam-se especialmente O. T. Allis, God spake by Moses, p. 153-9; B. Ramm, The<br />

Christian view of science and Scripture, p. 195-210). De semelhante modo, o vocábulo<br />

tõhü em Gênesis 1.2 se refere não ao resultado de uma suposta catástrofe (para a qual<br />

não existe nenhuma base bíblica clara), mas à falta de forma da terra antes que a mão<br />

criadora de Deus começasse os majestosos atos descritos nos versículos seguintes.<br />

Conforme se vê em Jeremias 4.23, a terra sempre tem a possibilidade de voltar a ser tõhü<br />

wãbõhü, caso Deus decida julgá-la.<br />

Mas assim como é difícil definir tõhü, é ainda mais difícil fazer uma idéia mental<br />

disso. Agostinho, em suas Confissões (Livro 12, 6), admitiu a sua incapacidade de captar<br />

visualmente a idéia transmitida pela palavra; Haydn, na abertura “Representação do<br />

Caos”, em seu oratório A Criação, teve muito mais sucesso em expressar musicalmente<br />

a idéia. [De outro lado, uma vez que “criar” em Gênesis 1.1 é um sumário de<br />

acontecimentos explicados no restante do capítulo (cf. o resumo final em Gn 2.1-3), pode<br />

ser que, ao usar o verbo “criar”, Isaías esteja se referindo a todas as obras de Deus<br />

durante os seis dias. Ele não “criou” um caos mas um cosmos (cf. Bruce K. W a lt k e ,<br />

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